sábado, 23 de dezembro de 2017

4,5º Nível de ressaca - A beleza perfeita, intacta e envolvente. O amor próprio!

       O livro O retrato de Dorian Gray (1891), de Oscar Wilde, conta a narrativa de um jovem de beleza invejável que ao ver o seu retrato pintado por Basil Hallward e na presença de lorde Henry Wotton, no dia da finalização da grande obra-prima do pintor, sem perceber pronuncia um pacto desejo que se torna realidade, onde partir daquele momento, no ateliê que estava os três homens de frente ao retrato, sua beleza ficasse intacta enquanto que todas as consequências do tempo e das experiências vividas fossem marcadas sobre o quadro.
          Durante a história há uma grande desilusão amorosa, o livro dos pecados sobre as experiências escabrosas, consideradas extremamente erradas para a época, século XIX na Inglaterra, maldosas, venenosas para a alma humana, nas quais o jovem irá se inspirar para realiza-las e que iram remediar os acontecimentos da história. Há dentre  outras coisas, a sucinta paixão homossexual, o sentimento de perda e vingança, bem como a narrativa do caráter soberbo adquirido pelo jovem (''o pouco de bondade que faço já me é o suficiente para ser considerado um santo'', tipo isso), do rompimento da inocência, do medo quanto ao destino de sua alma após a morte,  as referências ao mito de Narciso e do Doutor Fausto e a crítica social a época vitoriana em que o autor vivia.
          O drama é repleto de exposições de ideias e conceitos, o que a torna muito rica em diálogos incríveis, requintados e filosóficos. 
          O autor, Oscar Wilde (1954-1900), fez parte do movimento  artístico e filosófico conhecido como esteticismo, o qual concebia que a arte não detinha de função social nem politica, ou seja, a arte só existia pela arte (criar coisas belas).
          Bem, não escrevo aqui uma resenha completa e aprofundada sobre esse Clássico da Literatura Inglesa, mas apenas alguns fatos que talvez possam instigar uma pessoa a ler essa belíssima, envolvente e requintada narrativa, bem como minhas impressões de leituras. A seguir deixo alguns trechos curtos que marquei do livro, só para perpetuarmos certas lembranças do que foi lido.
  
''Nada nos parece alterado. Das sombras irreais da noite ressurge a vida real que conhecemos. Temos que retomá-las onde saltamos e, sobre nós, paira, furtiva, a sensação terrível da necessidade de continuação da energia naquela mesma roda maçante dos hábitos estereotipados, ou um devaneio espontâneo, quem sabe, que nos abra as pálpebras, em certa manhã, para um mundo remodelado na escuridão, todo novo, para o nosso prazer, um mundo em que as coisas teriam novas formas e cores, que mudaria, que teria outros segredos, um mundo em que o passado teria apenas um lugarzinho, ou lugar nenhum, ou, de um modo ou de outro, não sobreviveria em qualquer forma consciente de obrigação ou remorso, já que a reminiscência, até mesmo da alegria, contém amargura e as lembranças do prazer, dor.'' 


'' Nossos dias são muito curtos para que tomemos, nos próprios ombros, o peso dos erros de outrem. Cada um vive a própria vida e paga o preço de vivê-la., Em tudo, a única pena é que, com frequência, temos que pagar um preço alto por uma única falta. E, na verdade, estamos sempre a pagar. No trato com o homem, o Destino jamais encerra as contas.'' 
 '' A duquesa meneou a cabeça, exultante.
- Eu acredito na raça!
- Raça representa a sobrevivência dos intrujões.
-Raça tem evolução.
- A decadência fascina-me mais.
- E a arte?
- É um mal.
- O amor?
- Uma ilusão.
- A religião?
- O substituto da moda para a fé.
- Você é um cético.
- Jamais! O ceticismo é o princípio da fé.
- O que você é?
- Definir é limitar.
- Dê me uma pista.
- Os fios se rompem. Você se perderá no labirinto.'' 
''Todo romance vive da repetição e a repetição converte todo apetite em arte. Além disso, cada vez que amamos é a única vez que amamos. A diferença de objeto não altera a exclusividade da paixão, apenas a intensidade. Podemos ter, na vida, no máximo, uma grande experiência, e o segredo da vida está em repeti-la com a maior frequência possível.''

quarta-feira, 17 de maio de 2017

4º Nível de ressaca - Nítidas características da segunda fase do romantismo: egocentrismo, evasão da realidade, pessimismo, dor existencial, amor a loucura ...

''…Se me amavas, por que me deixaste? Com que direito? Responde-me! Por causa da mera inclinação que sentias pelo Linton? Pois não foi a miséria, nem a degradação, nem a morte, nem algo que Deus ou Satanás pudessem enviar, que nos separou. Foste tu, de livre vontade, que o fizeste. Não fui eu que despedacei teu coração, foste tu própria. E, ao despedaçares o teu, despedaçaste o meu também. Tanto pior para mim, que sou forte e saudável. Se eu desejo continuar a viver? Que vida levarei quando… Oh! Meu Deus! Gostaria tu de viver com a alma na sepultura?''
''Entreguei-lhe o meu coração e ele se apoderou dele, destroçou-o e, depois, o devolveu.''

4º Nível de ressaca

Uma narrativa contada em primeira pessoa, com uma riqueza de detalhe, sobre o estado, a transição e a recuperação da protagonista Olga após ser informada por seu marido, Mario, de forma inusitada, sem qualquer percepção por parte da esposa, de que ele iria lhe deixar. O abandono dos dias de união que se perpetuaram por 15 anos, cujos frutos foi um casal de filhos, Ilaria e Gianni e os cuidados com o cachorro Otto. Ela, em uma situação em que já não mais trabalhava fora, suas atividades diárias direcionadas a manutenção da casa, dos zelos com os filhos e o Marido, precisa lidar com a perda, com o isolamento e com a sobrecargava de uma vida antes compartilhada por dois. Com uma linguagem crua, honesta e angustiante, a autora Elena Ferrante conta o redimir de uma esposa, correlacionando-a no contexto da sociedade atual com a mulher de 30 anos atrás.
            A seguir algumas marcações literárias:
''É verdade que você já não me ama mais?''''Sim.''''Por quê? Por que eu menti? Por que te larguei? Por que te ofendi?''''Não. Justamente quando me senti enganada, abandonada, humilhada, te amei muitíssimo, te desejei mais do que qualquer outro momento da nossa vida juntos.''
''Eu tinha me perdido nos seus minutos, nas suas horas, para que ele se concentrasse. Eu tinha cuidado da casa, da comida, dos filhos, eu tinha me ocupado de todas as chatices da sobrevivência do cotidiano, enquanto ele escalava teimosamente o declive da nossa origem sem privilégios. E agora, agora ele me largava carregando consigo todo aquele tempo, toda aquela energia, todos aqueles sacrifícios que eu fizera por ele, de uma hora para outra, para gozar os frutos com outra, uma estranha que não tinha mexido um dedo para pari-lo, nutri-lo e fazer com que ele se tornasse o que era.''

   "Mostrar-se resistente, sê-lo. Eu tinha que dar um bom exemplo do que eu era. Somente impondo-me esta obrigação poderia me salvar". 
"E você não é uma mulher de trinta anks atrás. Você é de hoje, segure-se no hoje, não regrida, não se perca, se segure...Ele foi, você fica. Organize as defesas, conserve sua inteireza, não se faça quebrar como um objeto de decoração."


terça-feira, 14 de junho de 2016

5º Nível de ressaca - Reflexões sobre a liberdade a partir do ponto de vista feminino

De outras vezes, enchia-se de força. Seu olhar tornava-se duro como aço, áspero como espinhos, Sentia-se que ''podia''. Fora feita para ''libertar''.
''- É preciso saber sentir, mas também saber como deixar de sentir, porque se a experiência é sublime pode tornar-se igualmente perigosa. Aprenda a encantar e a desencantar. Observe, estou lhe ensinando qualquer coisa de precioso: a mágica oposta ao ''abre-te Sésamo''. Para que um sentimento perca o perfume e deixe de intoxicar-nos, nada há de melhor que expô-lo ao sol. ''

''Escute-me, amigo, a lua está alta no céu. Você não tem medo? O desamparo que vem da natureza. Esse luar, pense bem, esse luar mais branco que o rosto de um morto, tão distante e silencioso, esse luar assistiu os gritos dos primeiros monstros sobre a terra, velou sobre as águas apaziguadas dos dilúvios e das enchentes, iluminou séculos de noites e apagou-se em seculares madrugadas... Pense, meu amigo, esse luar será o mesmo espectro tranquilo quando não  mais existirem as marcas dos netos''