O
livro O retrato de Dorian Gray (1891), de Oscar Wilde, conta a narrativa de um
jovem de beleza invejável que ao ver o seu retrato pintado por Basil Hallward e
na presença de lorde Henry Wotton, no dia da finalização da grande obra-prima
do pintor, sem perceber pronuncia um pacto desejo que se torna realidade, onde
partir daquele momento, no ateliê que estava os três homens de frente ao
retrato, sua beleza ficasse intacta enquanto que todas as consequências do
tempo e das experiências vividas fossem marcadas sobre o quadro.
Durante a história há uma grande desilusão amorosa, o livro dos pecados sobre as experiências escabrosas, consideradas extremamente erradas para a época, século XIX na Inglaterra, maldosas, venenosas para a alma humana, nas quais o jovem irá se inspirar para realiza-las e que iram remediar os acontecimentos da história. Há dentre outras coisas, a sucinta paixão homossexual, o sentimento de perda e vingança, bem como a narrativa do caráter soberbo adquirido pelo jovem (''o pouco de bondade que faço já me é o suficiente para ser considerado um santo'', tipo isso), do rompimento da inocência, do medo quanto ao destino de sua alma após a morte, as referências ao mito de Narciso e do Doutor Fausto e a crítica social a época vitoriana em que o autor vivia.
O drama é repleto de exposições de ideias e conceitos, o que a torna muito rica em diálogos incríveis, requintados e filosóficos.
O autor, Oscar Wilde (1954-1900), fez parte do movimento artístico e filosófico conhecido como esteticismo, o qual concebia que a arte não detinha de função social nem politica, ou seja, a arte só existia pela arte (criar coisas belas).
Bem, não escrevo aqui uma resenha completa e aprofundada sobre esse Clássico da Literatura Inglesa, mas apenas alguns fatos que talvez possam instigar uma pessoa a ler essa belíssima, envolvente e requintada narrativa, bem como minhas impressões de leituras. A seguir deixo alguns trechos curtos que marquei do livro, só para perpetuarmos certas lembranças do que foi lido.
''Nada nos parece alterado. Das sombras irreais da noite ressurge a vida real que conhecemos. Temos que retomá-las onde saltamos e, sobre nós, paira, furtiva, a sensação terrível da necessidade de continuação da energia naquela mesma roda maçante dos hábitos estereotipados, ou um devaneio espontâneo, quem sabe, que nos abra as pálpebras, em certa manhã, para um mundo remodelado na escuridão, todo novo, para o nosso prazer, um mundo em que as coisas teriam novas formas e cores, que mudaria, que teria outros segredos, um mundo em que o passado teria apenas um lugarzinho, ou lugar nenhum, ou, de um modo ou de outro, não sobreviveria em qualquer forma consciente de obrigação ou remorso, já que a reminiscência, até mesmo da alegria, contém amargura e as lembranças do prazer, dor.''
'' Nossos dias são muito curtos para que tomemos, nos próprios ombros, o peso dos erros de outrem. Cada um vive a própria vida e paga o preço de vivê-la., Em tudo, a única pena é que, com frequência, temos que pagar um preço alto por uma única falta. E, na verdade, estamos sempre a pagar. No trato com o homem, o Destino jamais encerra as contas.''
'' A duquesa meneou a cabeça, exultante.
- Eu acredito na raça!
- Raça representa a sobrevivência dos intrujões.
-Raça tem evolução.
- A decadência fascina-me mais.
- E a arte?
- É um mal.
- O amor?
- Uma ilusão.
- A religião?
- O substituto da moda para a fé.
- Você é um cético.
- Jamais! O ceticismo é o princípio da fé.
- O que você é?
- Definir é limitar.
- Dê me uma pista.
- Os fios se rompem. Você se perderá no labirinto.''
''Todo romance vive da repetição e a repetição converte todo apetite em arte. Além disso, cada vez que amamos é a única vez que amamos. A diferença de objeto não altera a exclusividade da paixão, apenas a intensidade. Podemos ter, na vida, no máximo, uma grande experiência, e o segredo da vida está em repeti-la com a maior frequência possível.''