quarta-feira, 17 de maio de 2017

4º Nível de ressaca - Nítidas características da segunda fase do romantismo: egocentrismo, evasão da realidade, pessimismo, dor existencial, amor a loucura ...

''…Se me amavas, por que me deixaste? Com que direito? Responde-me! Por causa da mera inclinação que sentias pelo Linton? Pois não foi a miséria, nem a degradação, nem a morte, nem algo que Deus ou Satanás pudessem enviar, que nos separou. Foste tu, de livre vontade, que o fizeste. Não fui eu que despedacei teu coração, foste tu própria. E, ao despedaçares o teu, despedaçaste o meu também. Tanto pior para mim, que sou forte e saudável. Se eu desejo continuar a viver? Que vida levarei quando… Oh! Meu Deus! Gostaria tu de viver com a alma na sepultura?''
''Entreguei-lhe o meu coração e ele se apoderou dele, destroçou-o e, depois, o devolveu.''

4º Nível de ressaca

Uma narrativa contada em primeira pessoa, com uma riqueza de detalhe, sobre o estado, a transição e a recuperação da protagonista Olga após ser informada por seu marido, Mario, de forma inusitada, sem qualquer percepção por parte da esposa, de que ele iria lhe deixar. O abandono dos dias de união que se perpetuaram por 15 anos, cujos frutos foi um casal de filhos, Ilaria e Gianni e os cuidados com o cachorro Otto. Ela, em uma situação em que já não mais trabalhava fora, suas atividades diárias direcionadas a manutenção da casa, dos zelos com os filhos e o Marido, precisa lidar com a perda, com o isolamento e com a sobrecargava de uma vida antes compartilhada por dois. Com uma linguagem crua, honesta e angustiante, a autora Elena Ferrante conta o redimir de uma esposa, correlacionando-a no contexto da sociedade atual com a mulher de 30 anos atrás.
            A seguir algumas marcações literárias:
''É verdade que você já não me ama mais?''''Sim.''''Por quê? Por que eu menti? Por que te larguei? Por que te ofendi?''''Não. Justamente quando me senti enganada, abandonada, humilhada, te amei muitíssimo, te desejei mais do que qualquer outro momento da nossa vida juntos.''
''Eu tinha me perdido nos seus minutos, nas suas horas, para que ele se concentrasse. Eu tinha cuidado da casa, da comida, dos filhos, eu tinha me ocupado de todas as chatices da sobrevivência do cotidiano, enquanto ele escalava teimosamente o declive da nossa origem sem privilégios. E agora, agora ele me largava carregando consigo todo aquele tempo, toda aquela energia, todos aqueles sacrifícios que eu fizera por ele, de uma hora para outra, para gozar os frutos com outra, uma estranha que não tinha mexido um dedo para pari-lo, nutri-lo e fazer com que ele se tornasse o que era.''

   "Mostrar-se resistente, sê-lo. Eu tinha que dar um bom exemplo do que eu era. Somente impondo-me esta obrigação poderia me salvar". 
"E você não é uma mulher de trinta anks atrás. Você é de hoje, segure-se no hoje, não regrida, não se perca, se segure...Ele foi, você fica. Organize as defesas, conserve sua inteireza, não se faça quebrar como um objeto de decoração."